quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

falar em surdina...



Há dias como o de Ontem que nem os cães deviam sair à rua. Dias pesados que se sente um mau presságio no ar. Fim do dia, libertos dos canarinhos, com o corpo cansado, os sapatos altos a morder os pés e eis o que nos impede de ir para casa, a reunião. Entrámos meios trôpegos, empurrando-nos com o olhar, sentámo-nos e preparámo-nos para um enfado descomunal. Aos poucos os frios de Janeiro começam a entorpecer os nervos. Silêncio, simplesmente silêncio. O ponto mais importante era o da avaliação. Porém não foi este que nos deu cabo da cabeça: foi o balanço das actividades de final de período. Correram muito bem, muito interessantes, participativas e enriquecedoras. Até à hora do relatório.
- Fulanas e sicranas têm o relatório em falta. E o nosso nome em grande plano no quadro interactivo.
Com sorriso de raposa em cima de nós. E embasbacadas olhávamos incrédulas e atordoadas. Na nossa mente só passava a palavra relatório. Passados os primeiros momentos do atordoamento: começamos a falar em surdina e respondíamos, uma à outra, como podíamos: com os olhos, com monossílabos, escrevíamos em folhas, afinal tudo vale quando nos vemo
s atraiçoadas:
-Qual relatório?

- Não sei!
- Vou perguntar em que reunião foi mencionada a palavra relatório?
- Calma, caracolitos, consultamos primeiro as actas.
- Isso nunca foi falado?
- Não!
- Dizemos-lhe?
- Não
- Porque não, se nos calámos ela leva a melhor, aqui fica em pratos limpos quem é a incompetente.
- Se falamos, caracolitos, lixamo-nos! Vai ser este traste que nos vai avaliar?
- Hum!? Tens razão Aninhas, temos que esperar pelo momento certo.





Onde andará a liberdade de exp
ressão?

5 comentários:

Amizade no silêncio disse...

Liberdade...
— Liberdade, que estais no céu...
Rezava o padre-nosso que sabia,
A pedir-te, humildemente,
O pio de cada dia.
Mas a tua bondade omnipotente
Nem me ouvia.

— Liberdade, que estais na terra...
E a minha voz crescia
De emoção.
Mas um silêncio triste sepultava
A fé que ressumava
Da oração.

Até que um dia, corajosamente,
Olhei noutro sentido, e pude, deslumbrado,
Saborear, enfim,
O pão da minha fome.
— Liberdade, que estais em mim,
Santificado seja o vosso nome.

Miguel Torga, in 'Diário XII'

Fogão Assustado disse...

Esse corredor até assusta!
Não me digas que é da tua escola?
Parece o caminho para a cadeira eléctrica!!

Fátima disse...

Olá, amiga!
Gostei de ler "falar em surdina".
Como te percebo!!!
Que tenhas tido um bom Dia de Amigas e que todos os dias que aí vêm sejam ainda melhores!
Fica bem!
Beijinho da
Fátima

Mello disse...

Obrigada, Fátima!

Espero que tenhas tido um bom dia de amigas. Lembrei-me do nosso jantar de amigas do ano passado... tenho saudades, de cantarmos não em surdina, mas bem alto...

Beijinhos

Graça

☆ Feitio' zinhO ☆ disse...

sou seguidora ;)

Gostei*