quinta-feira, 22 de abril de 2010

Abril







Hoje, pela manhã, chovia torrencialmente e chapinhando na chuva de passo ligeiro passava a mulher de Abril. Os seus pensamentos vagueavam entre a chuva e o desejo imenso de sol. “Amanhã virão os militares e com chuva não haverá manobras. As exposições: “ 25 de Abril Sempre e Adeus à Ditadura” irão encher-se de alunos ávidos por um sítio enxuto. “ As gotas de água escorrem-lhe pelo cabelo, assim gelada relembra o dia anterior, quando ficara só, completamente, só a montar a exposição. Tão só que sentira que os fantasmas do Estado Novo a observavam. Só! O mês de Abril traz-lhe sempre este sentimento de completo abandono. O que sobrevive ao Outono e ao Inverno de Abril não passa. Em Abril sempre ficaram as melhores recordações que por vezes levam anos a serem transformadas em aprendizagens ínfimas. Resta o silêncio incomodativo. Ao fim do dia, foi novamente a última a sair da escola, tirara fotos das exposições e pensou: como conseguira sozinha, com ajuda de alunos que fazem mais mal do que bem, enfeitar duas exposições, duas grandes salas? Ela sabe que o merecimento não será seu, que haverá sempre alguém para recolher os louros, no fundo já está habituada. No entanto, dentro de si ela sabe que as projectou e as realizou sozinha e que nunca se sentira tão só.






4 comentários:

saudade no silêncio disse...

Solidão

Que venham todos os pobres da Terra
os ofendidos e humilhados
os torturados
os loucos:
meu abraço é cada vez mais largo
envolve-os a todos!

Ó minha vontade, ó meu desejo
— os pobres e os humilhados
todos
se quedaram de espanto!...

(A luz do Sol beija e fecunda
mas os místicos andaram pelos séculos
construindo noites
geladas solidões.)

Manuel da Fonseca, in "Poemas Dispersos"

Mello disse...

Para ti te dedico.

PRECISA-SE DE UM AMIGO

Não precisa ser homem, basta ser humano, ter sentimentos.

Não é preciso que seja de primeira mão, nem imprescindível, que seja de segunda mão.

Não é preciso que seja puro, ou todo impuro, mas não deve ser vulgar.

Pode já ter sido enganado ( todos os amigos são enganados).

Deve sentir pena das pessoas tristes e compreender o imenso vazio dos solitários.

Deve gostar de crianças e lastimar aquelas que não puderam nascer.

Deve amar o próximo e respeitar a dor que todos levam consigo.

Tem que gostar de poesia, dos pássaros, do por do sol e do canto dos ventos.

E seu principal objetivo de ser o de ser amigo.

Precisa-se de um amigo que faça a vida valer a pena, não porque a vida é bela, mas por já se ter um amigo.

Precisa-se de um amigo que nos bata no ombro, sorrindo ou chorando, mas que nos chame de amigo.

Precisa-se de um amigo para ter-se a consciência de que ainda se vive.
Carlos Drummond de Andrade

LOURO disse...

Olá Graça!
Linda a tua postagem!!!

A arte é um dom de quem cria;
Portanto não é artista
Aquele que só copia
As coisas que tem à vista.

A arte em nós se revela
Sempre de forma diferente:
Cai no papel ou na tela
Conforme o artista sente.

António Aleixo.

Bom fim de semana
Beijinhos de carinho e amizade,
Lourenço

Krïxtïnæ disse...

Falta aqui uma foto.
Eu bem que a tentei colocar, na caixa do comentário mas... não deu :-(
... é a foto da organizadora de todo este evento, que movimentou a EBI dos Biscoitos como nunca ninguém tinha visto até então!

Estás de Parabéns :-)