Os paraísos saídos da boca dos outros emitem um som doce, assemelham-se a colchões de nuvens e a néctar dos deuses. O mais adorável é quando afirmam nós aqui somos uma grande família. Que bom! Ter mais manos e manas rabudas e simplórios, mas nós também não escolhemos as famílias, não é verdade?
Aos poucos os paraísos transformam-se em tormentos e as famílias iniciam o processo de violência doméstica: línguas afiadas de camaleões que roçam o nosso dorso ao mínimo trânsito.
Aproxima-se o fim do mês de Janeiro e já posso fazer um balanço não muito perfeccionista, mas nada é perfeito. Os paraísos são postos à prova quando se precisa de cuidados de saúde e quando se fica incapacitada de trabalhar. De onde vem ajuda, num sítio onde não há transportes? De um senhorio de 60 anos por quem eu não dava nada, um habitante da terra. Da pseudo-família, nada.
A minha casa é a melhor do sítio, mas ao lado reside alguns membros da minha amarga nova família. São daquelas pessoas tristes que a idade avançou, mas que continuam a viver como se tivessem 20 anos para enganar a burrice, a tristeza e a frustração de se ter nascido como eles. O barulho é constante voa pela noite dentro.
Esta semana, cai nas escadas da casa. Voei literalmente pelas mesmas. Cheguei ao último degrau: sã e salva. Mas enquanto escorregava sem me poder amparar só pensava é desta. Se eu tivesse morrido era mais uma vaga na carreira docente. A preocupação não reside em morrer ou não, ela evidencia-se na possibilidade de ficar incapacitada – partir: uma perna, um braço, o pescoço etc. A quem pedir ajuda? Se nem o telemóvel estava comigo. Os dois inúteis dos meus vizinhos estavam em casa, mas estes dois são excrementos humanos.
Esqueci-me de acrescentar que me ergui com toda a dignidade e me mantive o mais erecta possível no decurso das aulas e muito atenta na reunião que precedeu os tempos lectivos.
5 comentários:
Será uma maneira mais rápida de descer as escadas?
Bem planeado até pode ser uma maneira de ficar mais uns minutos na cama... (rsrsrs).
Com que então "vizinhos barulhentos"?
Há leis que as autoridades fazem cumprir e a do ruído é uma delas.
Será a solução?
Ou, depois, mais um problema?
Espero que já tenha curado as mazelas e não deixe que o Ministério da educação esfregue as mãos de contente por deixar de pagar a mais um professor.
Vai ver o que sucederá no início do próximo ano lectivo a cerca de 30.000 professores.
Nem todos nascemos para roubar!!!
Boa noite e obrigada pelo seu comentário.
Foi a forma rápida e silenciosa descer as escadas. Posso assegurar-lhe que sei voar e faço uma aterragem perfeita, melhor do que a Sata.
Quanto aos vizinhos barulhentos nada posso fazer. Eu trabalho no fim do mundo e aqui as autoridades têm medo de pôr os pés. E se isso efectivamente acontecesse na escola a minha vida ficaria mais impossível. Solução uso tampões nos ouvidos e de manhã o meu despertador não se cala, sabe eu não atino com o botão que diz off.
As mazelas vão continuar por mais alguns tempos. Posso dizer-lhe que fui abençoada na queda porque as escadas estão tão mal construídas, tão tortas que podia ter sido muito pior.
De facto a profissão de ladrão é o que está a dar... Pode ser que o governo vá ver navios!!!
Graça, minha amiga!
Lamento a tua queda, mas estou feliz por estares inteirinha!
Arrepiei-me com a queda, mas a maneira como a contas fez-me sorrir um pouquinho.
Desejo que fiques boazinha depressa.
Fica bem, minha filha! Beijinho e continuação de um bom Domingo.
Fátima
Olá minha querida,
obrigada pela tua mensagem,
Força e um beijo cheio de saudades,
Graça
Andei atarantada como uma barata tonta com as aulas assistidas da semana passada. Só hoje é que vim ver se tinhas novidades... tristes, por sinal. Fiquei com a lágrima no canto do olho ao saber o que te aconteceu (e eu já vi essas escadas ao vivo e a cores e já subi e desci as que tens do lado de fora da casa). Imagino que não tenha sido um dia fácil, para ti, depois desse tombo.
O que sei é que tu és uma pessoa forte, que sabe enfrentar as situações menos boas com a cabeça erguida. Mas também sei que tu não mereces uma coisa destas, meu Deus...
Espero que já estejas bem. Vou enviar-te o um anjo da guarda.
Para a semana vou a S. Jorge :-)
Beijinhos e cuida-te.
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