No quintal da minha casa havia uma figueira coberta de grandes folhas verdes, raramente comíamos os seus frutos, os figos nasciam na época das chuvas e ficavam cheios de bichos. A figueira era a delícia dos pássaros que se aninhavam nos seus ramos fazendo cantigas para chamar a primavera.
A frondosa árvore não era só amiga silenciosa dos pássaros, também eu tive um relacionamento profundo com ela. Num dos seus ramos, virado a poente, pedi ao meu pai que fizesse uma arredouça. Feita de corda e o assento era uma saca de salitre daquelas brancas de 50 quilos que o meu pai comprava para adubar as terras.
Era neste baloiço que embalava os meus sonhos, estava protegida dos olhares por um pequeno muro, por isso junto à figueira podia construir o meu pequeno mundo.
Como era muito introvertida e fraca, uma criança demasiado alta para a idade, costumava a ser o alvo de troça dos colegas. E era junto à figueira que eu libertava as minhas mágoas. Por isso os meus pais comentavam que eu falava sozinha.
O tempo foi passando, e em volta da figueira, foi construído um galinheiro. Não gosto nada de galinhas e tenho mesmo pavor a semelhante galináceo. Os dias, meses e anos correram e a minha amiga continuava encarcerada no galinheiro, ainda tinha consigo o meu baloiço abandonado e triste. Talvez fosse minha a tristeza que transmitia para o baloiço que jazia frio da minha presença e eu despejada do seu conforto.
Aos poucos os bichos com asas foram indo para a panela e, certo dia, a árvore ficou livre. No lugar da antiga arredouça foi construída uma nova, com outras cordas e desta vez o assento foi feito com uma saca de lona.
Muitos anos mais tarde, a árvore foi cortada porque o seu tronco estava apodrecer, mas o lugar onde ela vivia ficou pobre e triste sem a grandeza da sua presença.
1 comentário:
Olá, minha amiga!
Gostei muito de ler "fogueira" - lindo!
Fez-me sorrir com ternura e também me trouxe uma certa nostalgia, mas doce!
Boa noite, beijinho e fica bem!
Fátima
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